Foi sem querer
Foi sem querer que descobri
a felicidade, e ela tem nome, cor, jeito, tem corpo, fala, riso, tem tudo o que
eu sempre quis e mais um pouco. Tem candura e acima de tudo tem o desejo
intenso de me fazer feliz também. Ah que descoberta maravilhosa foi essa. Como
me senti melhor, como me senti mais homem, mais vivo, mais poeta, mais
poderoso, mais tudo. A felicidade tem nome, nome de pessoa, nome de mulher,
mulher como nenhuma outra mulher, que nasceu me procurando pelas tristezas da
vida, pelas incertezas dos caminhos obscuros da solidão, que me procurou pelos
labirintos dos devaneios mais absurdos, mas mulher que também teve que viver
acorrentada a uma realidade cruel, sem pena que a corroeu durante anos
aprisionando-a num mundo tão medíocre onde só um possuía, só um usufruía, só um
podia, num mundo onde não havia troca, onde não havia saída, ou será que houve
uma entrada? Não, não houve ela foi jogada pelas falácias do destino neste
labirinto escuro onde nunca pôde enxergar uma luz sequer. A felicidade tem cor
de afeto, cor de paixão, cor de coração, cor de vergonha também, vergonha por
ter sido um objeto sem valor durante tanto tempo, mas não tinha do que se
envergonhar, para que? Ela tinha uma missão e a cumpriu como ninguém, a cumpriu
com maestria a todos fez feliz mesmo que isto tenha lhe custado a sua própria
vida. Ah que mais diria desta cor senão que é cor de coragem, a coragem
demonstrada pelo passar dos anos, enfrentando tudo calada, mas não mascarada, a
fim de proteger todos que amava em volta. Ninguém nunca viu, nunca percebeu,
nunca se deu conta de tanta força, e nem ela própria se achando a menor de
todas foste sempre a maior, se achando a mais fraca foi sempre a mais forte e
impoluta. A felicidade tem jeito, e jeito de menina, de mocinha linda, de
menina de pés descalços que corre pela grama com vestido rodado sorrindo para a
liberdade, posso enxergar de perto seus olhos brilhantes, na verdade ela toda
brilha e como brilha. O brilho da esperança, da fé e da certeza que a acompanha
de que os sonhos se realizam um dia por mais que demorem. Brinca no balanço e
esquece de tudo, não há lágrimas, há apenas o céu e a terra, o balanço e a
brincadeira. Como é bom ver seu rosto, ver sua mão no queixo posando para a
foto da eternidade com um sorriso tímido mas magistral. A felicidade tem corpo,
belo, pronto e incomparavelmente puro. Tem calor, tem presença, mas ao mesmo
tempo não quer aparecer, se esconde adequadamente sobre os mantos da humildade.
Quando anda demonstra agilidade, quando para, prontidão. Não é só corpo, é obra
de arte. A felicidade tem fala, sua voz ecoa como voz de muitos pássaros,
alivia a alma. É uma voz que enobrece mas ao mesmo entorpece. Fico
completamente entorpecido, tonto de amor. Quero ouvi-la falar o tempo todo,
toda hora, e mesmo que a fala seja mais dura, é ela que quero ouvir, o tempo
todo quero o seu tom em meus ouvidos. Tom de ternura, tom de afago, o tom que
muda drasticamente minha vida e me empurra para frente, o tom que me faz dançar
sobre as nuvens. A felicidade ri, e como ri. E quando ri o sol brilha com mais
alegria, a lua baila no céu, os pássaros se aglomeram e cantam como num coral,
e eu me extasio, salto, corro, nem sei o que fazer, pois ela sorri para mim e
mesmo quando sorri de mim, eu não me contenho, a minha alegria é tanta que
chego a chorar, ri para mim felicidade. Ri de mim felicidade, não pára por
favor, quero te ouvir sorrir pela manhã quando acordar ao meu lado, e a noite
quando te cobrir do frio da noite. A felicidade é tudo o que sempre quis e ela
finalmente me encontrou meio de pé, meio deitado, meio vivo, meio morto, mas me
aceitou. Logo a mim poeta tão menor quanto o menor dos poemas. Felicidade me
deixa ficar ao teu lado para sempre, quero cantar pra você, quero balança-la no
balanço dos sonhos, quero enche-la dos ornamentos da suavidade. Nos encontramos
na esquina da prosa com a rua da poesia e descobrimos que fomos feitos um para
outro. E será que foi mesmo sem querer que a descobri?
William Vicente Borges
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